No século XX, Ivan Pavlov treinou seus cachorros de modo a associar o tilintar de um sino com comida. Ele descobriu que toda vez que o sino era tocado, mesmo se não desse comida para os cachorros, eles salivavam por antecipação.
Atualmente, de forma ou outra, parece que isso também está acontecendo com a gente. Alguns psicólogos já dizem que toda vez que recebemos notificações, nosso corpo libera um pouco de dopamina, o hormônio da felicidade. Se é verdade que as redes sociais estão fazendo realmente isso com a gente eu não sei, mas quem é que não quer 500 seguidores no Instagram?
Ainda não podemos dizer que há uma precisão científica nesses estudos, mesmo porque isso implicaria que todas as notificações que recebemos são interessantes, nos deixam felizes e são altamente eficazes no seu propósito. Não são. Muitas são simplesmente irritantes, repetitivas, inúteis e só param quando resolvemos desinstalar o aplicativo.
Por outro lado, muitas notificações são altamente eficazes e nos ajudam com informações fornecidas no momento certo. Quando o sistema sabe que você tem um compromisso e te avisa sobre o trânsito e a hora em que você deve sair de casa, por exemplo, você fica realmente feliz, porque é esse tipo de notificação que a gente precisa.
Uma notificação dessas é gratificante e é exatamente o que um bom profissional de UX deve fazer: pensar nas notificações para ajudar seus usuários porque é assim que eles vão gostar do seu produto.
5 coisas para pensar antes de criar notificações
1 //Seja confiável
Não minta. Não pareça exagerado. Isso pode parecer bastante óbvio até que surge a mesma notificação de quanto um produto é maravilhoso ou de quanto ele está sendo vendido diariamente e “restam apenas 2 unidades”. Informações que não parecem confiáveis aumentam a taxa de rejeição do aplicativo. Você não quer isso, certo?
2 // Deixe as notificações customizáveis
Se você não permitir que seu usuário customize as notificações que recebe, a probabilidade de ele desinstalar o aplicativo para parar de receber notificações é bastante alta. Uma maneira simples e eficaz para que isso não ocorra é deixar opções para desativar ou diminuir a frequência de notificações.
3 // Engaje seus usuários
Para falar sobre engajamento, o exemplo de Antoine Sakho é muito interessante, deixemos que ele explique:
O Duolingo envia todos os dias a mesma notificação: anônima, genérica e que, muitas vezes, soa paternalista demais. Ela não entrega valor nenhum: se você toca na notificação, você simplesmente abre o aplicativo nos cursos.
O Duolingo ainda manda uma notificação dizendo “Parece que nossas notificações não estão funcionado para você. Vamos parar de enviar por enquanto.” Essa é mais uma tentativa de fazer você usar o aplicativo, mas na verdade é a notificação derradeira, que pode fazer com que você desinstale de vez o aplicativo.
Outro exemplo, é o Busuu. Um aplicativo bem parecido mas com uma estratégia melhor. Ao invés de dizer o tempo todo que você precisa praticar, e te lembrar toda hora que você ainda não sabe um idioma, ele te motiva. Ao contrário do Duolingo, que apenas te irrita.
O ponto aqui é que as notificações sejam outras formas de interação com o usuário. Quanto mais atraentes forem, maior é o valor do seu produto. Isso se aplica a tudo: redes sociais, mensagens via push ou campanhas de marketing. Envolver o usuário é vital para o crescimento.
4 // O momento certo é o segredo
Se eu vou dormir todos os dias às 23 horas e tenho um sono leve e um aplicativo me envia notificação para comprar algo todos os dias às 23:30 e me acorda todas as noites, o que eu faço? Desinstalo para sempre.
5 // Nem todas as notificações nascem iguais
Existem basicamente dois tipos de notificações: aplicativo-usuário (o sistema envia notificações) e usuário-usuário (a notificação vem de um amigo ou alguém que você conhece). Em geral, o número de notificações usuário-usuário que a gente recebe é bem maior do que as notificações de um sistema. As notificações usuário-usuário envolvem mais as pessoas, porque são mais humanas, despertam mais interesse. As notificações aplicativo-usuário vêm de uma máquina e se o sistema não for criado para gerar interesse verdadeiro, engajamento real, vira spam.
Ou você cria notificações úteis ou é melhor não enviar notificações de aplicativo-usuário. Menos é mais nesse caso.
Claro que isso não significa que você pode encher o usuário com notificações, mesmo que elas sejam úteis. Agrupe as notificações sempre que possível: “Você tem 20 novos likes” ao invés de dizer 20 vezes “Você tem 1 novo like”.
É esse tipo de coisa que torna seu produto incrível e que as pessoas gostam de usar. Parece simples, mas quando um usuário fica esperando suas notificações, ele é um usuário fiel. Se você chegou nesse ponto, você venceu a batalha.
Esse texto foi adaptado do original em inglês: UX and Psychology III — Pavlov your user, Viba Mohan